Guardar o Coração
para VER o Natal
MAIS UMA VEZ esperamos o Natal de Jesus. E como o esperamos? A
Sociedade o espera como oportunidade de descanso, férias, vendas e lucro. É
tempo de viagens - carrega a ansiedade do fim do inevitável que já passou; como
também, a vívida expectativa do recomeço do que está para surgir. A Igreja olha
para o presépio de Jesus! E busca nele as razões da sua esperança. Para o mundo
cristão, católico romano ou não, quem motiva a vida humana e sua trajetória é
Cristo, o Filho de Deus enviado para salvar seu povo dos seus pecados. Esta
obra de resgate tem seu ápice neste momento histórico inaugurado pelo Natal e
consumado pela Páscoa.
A Igreja Católica convida seus fiéis a viver este tempo de
preparação para o Natal como um retiro espiritual. À primeira vista, tal
atitude parece absurda, pois poderiam objetar que isto soa como loucura - fazer
um retiro no meio desta correria de final de ano! Mas este parece ser objetivo:
guardar o coração para ver Jesus na
festividade do seu nascimento. E para tanto três atitudes demonstram ser
indispensáveis: o esvaziamento do coração da atitude egoísta, e o seu
consequente preenchimento da novidade do Evangelho, que anuncia a chegada
iminente do Messias; e finalmente, o exercício da caridade sincera e
desinteressada.
Esvaziar o coração ou ainda purificá-lo é uma exigência
para dar continuidade à vida na qual existimos. Ninguém suporta carregar o
mundo sobre suas costas – o tempo todo. A Sociedade atual prega o contrário. No
mundo do trabalho, as pessoas são obrigadas a viver sob pressão, deixando-se
abarrotar por necessidades alheias à própria e legítima felicidade. Do ponto de
vista da fé, há também a realidade do pecado, isto é, daquilo que ofende a Deus
que é Amor. Logo, o pecado é sempre um ato consciente e voluntário de egoísmo,
que nos leva a viver centrados em nós mesmos e a não sermos capazes de ver a
Deus e menos ainda o próximo. A felicidade cristã consiste justamente na
proclamação da boa notícia de que Deus tem cuidado e atenção de nossa vida.
Deus não é egoísta. Ele é o mais puro amor. Tomou nossas vidas em suas mãos,
quando enviou seu Filho ao mundo no tamanho de uma criança de colo – e nesta
criança, reza a fé cristã, um mistério jamais contado, agora declarado, se fez
anunciar: Deus e a humanidade, unidos pra sempre em doação recíproca.
Daí que, o que temos de bom, recebemos de Sua bondade e
misericórdia. A salvação não vem do esforço individualista para alcançá-la,
quer pelo autosacrifício infligido, quer pela virtude exercitada ao extremo da
negação dos próprios limites, mas vem de Deus mesmo, isto é, somos salvos
quando Ele resolve enviar seu Filho ao mundo, para que o mundo seja salvo através
do presente da sua vida entregue em nossas mãos. É magnífico este mistério:
Deus nos carrega em suas mãos, na medida em que nós O carregamos em nossos
braços. É verdadeiramente uma troca de amor e cuidado, que se chama salvação.
Esta é a boa notícia do Natal cristão.
Assim, quando carregamos algo de alguém – sua cruz, seus
lamentos, suas lágrimas, suas mãos, seu corpo, sua vida, suas alegrias e
sucessos – e se ajudamos o próximo, estamos agindo amparados no exemplo de
Jesus. Nós cristãos queremos imitar o exemplo amoroso de Cristo. E renovamos
este bom propósito todos os anos festejando seu nascimento. Esta novidade do
Natal convida-nos à escuta do que Deus tem para dizer-nos. E para tal é
indispensável abrirmos mão de nós mesmos e de nossa atitude absolutista de nos
colocarmos no centro de todas as coisas. Para ouvir, precisamos de espaço
interior para a escuta. Esvaziar-se é necessário. Deixar os excessos da vida
pelo caminho é indispensável. Em suma, não querer ter razão, mas buscar as
razões fora de nossas próprias ideias. A profissão de fé cristã e a Igreja
Católica apresentam-nos Jesus e seu Evangelho como o fundamento de uma vida
feliz e abençoada. Começar de Cristo.
Se o nascimento de Jesus e seus ensinamentos estão na
origem de uma vida feliz e abençoada, não é a riqueza ou o excesso de trabalho,
nem mesmo o ócio sem sentido, que garantem que o próximo ano civil, que já vem
chegando, será caminho de realização para todos. Antes, a Igreja Católica
convida à Sociedade, e o mundo inteiro, à conversão pela verdadeira caridade,
que difere em profundidade da mera filantropia, pois não está preocupada com o que
dirão de nós, mas dá porque vê a necessidade daquele que pede da sua indigência
que toca fundo em nosso coração. Se
nos interpela a pobreza do Menino Jesus e de sua Sagrada Família no presépio, e
nos emociona, também deve nos interpelar aquilo que nossos olhos insistem em
desviar ao longo do ano abarrotado de obrigações, que insistimos colecionar.
Não basta olhar o presépio para
encontrar a salvação. Faz-se necessário carregar Jesus nos braços – meter-se no
mistério. Esvaziar-se de si mesmo; ter espaço para conter no coração a novidade
da bondade de Deus que nos ensina o exemplo do amor que salva. Esta
oportunidade de recomeço não pertence apenas aos cristãos e aos católicos, mas
é um convite à humanidade inteira, aos homens e mulheres de boa vontade, que
desejam inaugurar o novo ano com olhos novos e coração novo, para sentir a vida
na necessidade de cuidado e proteção que brota do coração daqueles que estão ao
nosso redor. Este é o caminho da verdadeira felicidade que aprendemos com aquele
que nasce no Natal e a razão de nossa esperança. Oxalá o seja para todos! Feliz
Natal.
Padre Rodolfo
Gasparini Morbiolo
Pároco de Nossa
Senhora Aparecida – Vila Angélica
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