Padres para Hoje?
Pe. Rodolfo Gasparini Morbiolo
A
modernidade caminha sob a égide da novidade. Verdadeira também é a máxima
bíblica que afirma que nada há de novo debaixo do céu. Tudo depende do olhar;
da perspectiva; e ela sempre muda.
Na vida e na história da Igreja Católica e de seus membros isto se
aplica integralmente. De modo algum, compararíamos os tempos e as necessidades
do presente aos últimos trinta ou cinquenta anos da história do Brasil e do
Mundo. De padres operários em luta contra aspectos ditatoriais nacionais, ou
ainda de uma igreja em guerra contra um oportunista socialismo utópico,
passamos à revolução da mídia, à crise institucional das religiões, à
sedimentação secular do clero e à progressiva migração do laicato aos
estamentos de poder das Igrejas.
Isto sem contar o relacionamento comum entre cultos e religiões,
opções de fé e ausência dela mesma, tudo em convivência social presumivelmente
tranquila. A realidade não reluz assim como ouro polido, pois a convivência
social acaba dependendo dos interesses privados das instituições e partidos
envolvidos. Mas então quais aspectos positivos poderiam ser obtidos desta revolução
dos tempos?
Do ponto de vista eclesial e do ministério ordenado (diga-se de
passagem, meu ambiente de trabalho e crítica), vemos o surgimento de “padres
muito diferentes” do habitual. Se antigamente o padre era apenas o “operário do
culto”; hoje, se caracteriza por tudo o mais, inclusive o serviço das coisas de
Deus e de suas relações com a humanidade.
O padre hoje é um homem da sociedade, professor, advogado, médico
de corpos e de almas, engenheiro, projetista. Zelador de sua família - pais,
irmãos, parentes; disseminador de amizades frutíferas e cuidador das mesmas.
Também é um homem das mídias e das redes. Está com um pé no presente e outro no
futuro, e seu olhar deve estar em constante transformação para captar o
ambiente e as mudanças ao redor. E no meio de tudo isto, ele é “padre”.
Vimos nos últimos anos de tudo um pouco. Tivemos em João Paulo II
um papa que em sendo sacerdote era um professor esportista. No auge do
ministério petrino escalava picos montanhosos e fazia caminhadas no gelo em
pleno inverno europeu. No Brasil, no cenário da revolução das mídias surgiram
sacerdotes cantores, que se mantiveram no ministério fazendo da evangelização
pela música um modo de viver sua vocação, como também aqueles que usando do
emblema sacerdotal migraram para a pura realização de suas ambições pessoais.
Também os jornais não cessam de noticiar os padres esportistas, intelectuais
(me insiro nesta categoria), “gurus” de governos e de personalidades artísticas
de enlevo nacional e internacional. E no meio de tudo isto, continuam sendo
“padres”.
Por um lado, ninguém pode dizer que os padres de hoje não estão
inseridos na sociedade e no mundo. Antigamente, poderiam ser acusados de
“fugirem do mundo”, “alienando-se na fé e nas Igrejas”. Hoje, mais do que
nunca, alienam-se nas coisas do mundo, não obstante suas responsabilidades
eclesiais.
Sendo oportuno recordar o convite do saudoso papa João Paulo II,
que fez ressoar o estilo de vida de São Paulo, de fazermos o Evangelho de
Cristo ressoar, nos mais diversos Areópagos do mundo atual, o exercício do
sacerdócio na Igreja Católica hoje contempla esse ideário motivacional: “estar
no mundo sem ser do mundo”.
Infelizmente, como o ser humano está sempre sujeito ao erro, e do
ponto de vista da fé, ao pecado, seria desonesto negligenciar o caso daqueles
que estando no meio das coisas deste mundo acabaram desfigurando sua identidade
vocacional mais profunda, isto é, sua verossimilhança a Jesus Cristo, e se
perderam no meio das realidades que deveriam evangelizar. Acabaram “se perdendo
no mundo”.
Ainda por outro lado, esta ambiguidade da natureza humana (o erro
e o vício), não descaracteriza este movimento atual, antes reforça-o como
necessário para evidenciar a humanidade daqueles que servem a humanidade nas
coisas que dizem respeito a Deus. Se tudo é uma questão de olhar e de
perspectiva, contemplar o sacerdócio hoje como oportunidade de estar no mundo
de maneira mais frutífera e generosa na doação pessoal para que a sociedade
perceba que o Evangelho de Cristo pode ser implantado em todos os ambientes e
trabalhos, significa o rejuvenescimento desta instituição religiosa na
vanguarda da modernidade.
Se isto não for bom para os tempos futuros, a história se
encarregará de neutralizar os efeitos nocivos de nossas vaidades, sepultando-as
no ocaso desta geração, como já o fez nos tempos passados, sem prejuízo
daqueles que poderão ao menos afirmar, olhando para o passado, que nos
esforçamos para fazer o melhor possível.
Reflexão perfeita padre Rodolfo; ressalto sua menção sobre a batalha diária contra o mundo secularizado.....para mim é batalha constante e bastante difícil !
ResponderExcluirAbraço
Osvaldo