Reflexão da Liturgia - Terça à Sexta, e Domingo

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domingo, 8 de março de 2009

"O QUE VIMOS E OUVIMOS NÓS ANUNCIAMOS!" - parte 2/2

2. Para quem nós anunciamos?
A Igreja tem falado há muitos séculos; e falou à muitos povos. E hoje ainda fala: na verdade, nós é que falamos. Por isso é que estamos fazendo teologia, porque precisamos falar de Deus com coerência e inteligência.
Hoje a Igreja não fala ao mundo do século passado, nem ao mundo do último milênio. Mundo belos, de grandezas magestosas, mas que se encontram bem distantes de nossa realidade hodierna, e já colapsaram.
Mas, então, qual é esta realidade hodierna? Quais nossos maiores desafios?
A Igreja do Brasil, na Conferência de Aparecida tentou apontar alguns de nossos maiores desafios para a evangelização. Entre eles, citamos:
1. A justiça social, violada pelo capitalismo selvagem e pela má distribuição de renda, que gera e alimenta a pobreza e a miséria;
2. A dignidade humana, ferida pelas propostas abortivas, e por outros instrumentos de manipulação e violação da vida;
3. A promoção integral do ser humano: enfermos, idosos, dependentes de drogas, detidões em prisões, os insanos internados;
4. O dilema da vida em grandes centros urbanos e suas exigências morais e éticas, e os migrantes;
5. A família, e o dilema do divórcio e novas uniões, na Igreja;
6. O homossexualismo e as propostas de união civil, bem como os adeptos às outras modalidades de expressão da própria sexualidade;
7. O meio ambiente;
8. A cultura e a educação.
Isto sem falar dos dilemas intra-eclesiais: a comunhão entre pastores e leigos, em respeito mútuo, a vida comunitária, as pastorais e sua ação evangelizadora, e re-evangelização dos batizados não praticantes, os encândalos morais e éticos de clérigos e leigos; e também as relações ecumênicas e inter-religiosas.
Há muitas realidades que precisam ser atingidas pela ação evangelizadora da Igreja: não para condená-las, mas para convertê-las. Parece que o maior problema da evangelização não está nas situações propriamente insolúveis, pois cada tempo teve das suas necessidades históricas; mas no que queremos fazer com elas: condená-las, ignorá-las, crucificá-las, e aos seus com elas, ou convertê-las, ou se aproximar delas como Jesus Cristo, enviado pelo Pai, no Amor, se aproximou de nossas realidades para que pudéssemos ser atraídos por sua bondade.
Falamos hoje para um mundo que precisa ser:
1. Amado na sua dor;
2. Compreendido em suas rebeldias;
3. Educado na sua ignorância;
4. Corrigido nos seus desvios;
5. Em suma: convertido.
Assim como cada um de nós!

Precisamos cuidar do proselitismo: acharmos que somos a melhor bolacha do pacote.
Bem como cuidar do indiferentismo: tanto faz, o mundo está perdido mesmo.
O mundo para o qual falamos não quer nos ouvir: humildade e perseverança! E precisamos lidar com a frustração da derrota: podem realmente não querer nos ouvir e poder nos perseguir, e crucificar! E, então, teólogos?

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiçaporque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,10).
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3. Quem somos nós?
Enfim, um adendo: quem somos?
Esta pergunta me incomoda. Ou melhor incomoda o ser humano desde que o mundo é mundo. Alguns afirmam que a existência deste questionamento é que faz com que o ser humano seja humano e não um ser de outra espécie. Enfim, qual é a resposta?
Estamos diante de uma grande revolução. Durante muitos séculos respondemos na Igreja esta pergunta apoiando-nos no substrato espiritual: fomos adotados como filhos de Deus, é isto que somos, esta é a nossa dignidade.
Bem, façamos um trocadilho. Eu não perguntei: o que somos nós? E sim: quem somos nós? Parece muito fácil nomear e definir um objeto. É fato! Ele não é uma pessoa, mas nós o somos. O ser humano é uma pessoa. Ser filho, neste caso, adotivo de Deus, estabelece uma relação entre pessoas, mas será que define a pessoa em si mesma. Precisamos melhorar esta resposta.
Bem, na verdade, na teologia clássica, ser filho adotivo de Deus pelo batismo, ajuda a esclarecer sim quem somos, pois o caráter batismal muda o nosso ser, instaura uma nova ordem em nós, direciona a nossa vida para Deus, para o Pai do Céu, torna-nos capazes de Deus e de seus dons, torna-nos aptos para o relacionamento com Deus.
Isto é muito grande e muito belo, mas não podemos parar por aqui, pois a pessoa humana tem características temporais, com as quais Deus nos criou e nos mantém no mundo e na história. Se é fato que Deus nos criou com uma brecha ou uma abertura natural para alcançá-lo, e preencheu esta brecha com sua graça pelo batismo, ensinando-nos a ser seus filhos e a nos completarmos nele e dele, também é verdade que ele nos criou com outras qualidades.
Quem?, é uma pergunta muito ampla e complexa.
Dentre as qualidades que o ser humano possui podemos distinguir as materiais, físicas, e as imateriais, não físicas, com a capacidade racional, a criatividade, a inteligência, as emoções, os sentimentos, os afetos, as paixões: tudo isto é ser humano. E muitas tem sido as descobertas da ciência em nossos dias que nos tem ajudado a compreender o comportamento do nosso corpo e da nossa mente, em relação a nós mesmos, com os outros e com o universo. Não podemos ignorá-las! Não podemos também achar, como já foi dito no passado, que tudo isto é obra do demônio. Também não podemos ser licenciosos, absorvendo todas as idéias novas sem nos debruçarmos sobre suas consequências.
Um dos maiores desafios da teologia católica hoje consiste na capacidade crítica de analisar a realidade a partir da Revelação Divina que nos foi transmitida pela Igreja e que alimenta nossa espiritualidade. Não temos condições de esboçar em profundidade estas pesquisas, mas precisamos perceber que estamos no limiar de grandes revoluções em todas as áreas do saber. Como vamos nos haver com isto?
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Leituras Obrigatórias
Bíblia Sagrada (cf. BÍBLIA DE JERUSALÉM. SP: Paulus, 2002).
Catecismo da Igreja Católica (cf. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Petrópolis/RJ: Vozes, SP: Loyola, 1993).
Compêndio do Concílio Vaticano II (cf. COMPÊNDIO DO VATICANO II. Constituições, decretos, declarações. 25.ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1996).
Documento de Aparecida (cf. CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V conferência do episcopado latino-americano e do caribe. 2.ed. Brasília/DF: CNBB, SP: Paulus, Paulinas, 2007).
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Aprofundamentos
ARENAS, Octavio Ruiz. Jesus, epifania do amor do Pai. Teologia da revelação. 2.ed. SP: Loyola, 2001.
BURGGRAF, Jutta. Teologia fundamental. Manual de iniciação. Lisboa: Diel, 2005.
LIBANIO, João Batista. Igreja contemporânea. Encontro com a modernidade. SP: Loyola, 2002.
LIBANIO, João Batista; MURAD, Afonso. Introdução à teologia. Perfil, enfoques e tarefas. 3.ed. SP: Loyola, 2001.
RATZINGER, Joseph. Fé, verdade e tolerância. O cristianismo e as grandes religiões do mundo. SP: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lulio” (Ramon Llull), 2007.
RATZINGER, Joseph. Introdução ao cristianismo. Preleções sobre o Símbolo Apostólico. Com um novo ensaio introdutório. SP: Loyola, 2005.
RATZINGER, Joseph. Natureza e missão da teologia. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008.
RATZINGER, Joseph. O sal da terra. O cristianismo e a Igreja católica no século XXI. Um diálogo com Peter Seewald. 2.ed. RJ: Imago, 2005.

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